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30 de julho – Sebos da Rua Ruy Barbosa

Por Carol Andrade

A entrada do Sebo Brandão é recepcionada por uma plaquinha e alguns degraus para o subsolo do imenso salão (Fotos: 365 Salvador)

A entrada do Sebo Brandão é recepcionada por uma plaquinha e alguns degraus para o subsolo do imenso salão (Fotos: 365 Salvador)

A Rua Ruy Barbosa é daquelas para passear tranquilamente durante um dia inteirinho com os ouvidos atentos às história do lugar. Entre barbearia, lojas de antiguidade, muitos hotéis, alguns restaurantes, a casa onde o o jurista Ruy Barbosa nasceu, lá reina absoluto o Sebo Brandão, conhecido como o maior sebo do Brasil.

Se logo na esquina com a Rua Chile, a gente já se depara com um enorme painel de Carybé (no Ed. Des. Braúlio Xavier), como se estivesse dando boas vindas aos transeuntes, mais adiante você vai encontrar alguns sebos até chegar ao Brandão, com uma pequena plaquinha na porta indicando seu lugar reservado desde 1969. Em apenas alguns degraus – abaixo, já que a loja funciona em subsolo – já dá para sentir a dimensão daquele lugar que a gente pode chamar de cidade dos livros ou o paraíso de qualquer pesquisador.

"Aqui é o paraíso dos pesquisadores", diz seu Eurico, do Sebo Brandão (Foto: 365 Salvador)

“Aqui é o paraíso dos pesquisadores”, diz seu Eurico, do Sebo Brandão (Foto: 365 Salvador)

São dezenas, cententas, milhares de títulos, espalhados em modestas prateleiras. Corredores e mais corredores de romances, ou obras de economia, história, filosofia, entre outras especialidades. Sentado lá no fundo da loja, um senhor de 84 anos é o dono do pedaço. Seu Eurico Brandão é bom de papo e gosta de explicar – ou melhor, “fundamentar” tudo direitinho: “não dá para resumir a história porque assim você fica só com um ‘relampagozinho’, né?”, disse. Por isso reclama do tempo curto. “Minha filha você tinha que vir mais cedo, uma hora dessa a gente já está fechando o expediente”, protestou.

Ele me explica em pinceladas – ou durante uns 30 minutos – o que gostaria de ensinar durante uma hora ou mais: a história dos sebos. Me diz que tem certeza quase absoluta de que foi o primeiro a divulgar uma loja de livros usados como um legítimo sebo. “Eu não fui o criador do sebo, ele existia antes de mim. Mas fui o primeiro a divulgá-lo comercialmente”, contou orgulhoso. Seu Eurico, que é pernambucano, fundou sua primeira loja no Recife, em 1956.

Seu Eurico Brandão (Foto: 365 Salvador)

Seu Eurico Brandão (Foto: 365 Salvador)

“Antigamente os sebos eram empresas sujas, desorganizadas, tinha até uma conotação com a palavra sebo, com conotação pejorativa. A história começa com os livros escolares de uso permanente, passando de um aluno para o outro.  Naquela época, os estudantes não tinham mochila ou sacola, e carregavam os livros nas mãos. Com o tempo, a lombar do livro ficava ensebada, por conta da gordura das mãos”, explicou seu Brandão.

Ele contou ainda que sua estratégia para não criar um burburinho em torno da palavra sebo – ou melhor “para neutralizar os maledicentes” – se adiantou em colocar o sobrenome. Assumindo a ideia, sem delongas. Admite que preferia ter fundado sua segunda loja em Belo Horizonte, mas por insistência de Luiz Vianna, na época, o governador da Bahia, acabou mantendo a filial em Salvador. Foi quando começou a receber visitas ilustres de grandes intelectuais da cidade: José Calasans e Cid Teixeira, foram alguns deles. Depois, morando em São Paulo por 25 anos, seu Eurico abriu uma filial em 1980, completando as três lojas do Sebo Brandão e consolidando o seu imenso acervo bibliográfico.

Os outros vizinhos sebos da Rua Ruy Barbosa: JB e São José (Fotos: 365 Salvador)

Os outros vizinhos sebos da Rua Ruy Barbosa: JB e São José (Fotos: 365 Salvador)

Simples, porém muito organizado, quem olha o Brandão passando Rua Ruy Barbosa mal acredita no mundo que existe lá dentro. Só aqui em Salvador são 200 mil exemplares em estoque, sendo que em Camaçari, o Brandão ainda conta com um depósito. Em São Paulo, quatro depósitos também reservam alguns exemplares. “Tem muito mais, mas eu tô contando só os livros bons”, disse entre risadas. Entre tantos títulos, é possível encontrar coleções raras, obras preciosas, daqueles que ninguém acha mais em livrarias. “Aqui é a casa do pesquisador. Tem o leitor que não quer comprar na livraria por causa do preço, chega aqui e paga a metade, mas tem o pesquisador que só vai encontrar livros aqui”, encerrou.

A Rua Ruy Barbosa ainda abriga outros dois sebos. O JB, sob comando do seu João Brandão, que é vizinho de frente com maior sebo Salvador. Não à toa, os dois levam o mesmo sobrenome: são irmãos e ex-sócios. Depois de brigarem, João ficou com a pequena loja da frente. E ainda no início da rua, perto do painel de Carybé, está o sebo São José. As três lojas estão filiadas ao maior site de venda de livros do Brasil: a Estante Virtual, sendo a Brandão um dos grandes destaques do site, pelo seu imenso acervo.

+ infos:

Sebo Brandão Bahia:
Funcionamento: de 8h às 18h (segunda a sexta) e 8h às 14h (sábado)
Endereço: Rua Ruy Barbosa, Centro Histórico.
Telefone: 3243- 5383/ 3242-3721
Estante Virtual: Sebo Brandão

Sebo JB
Endereço: Rua Ruy Barbosa, Centro Histórico.
Estante Virtual: Sebo JB

Sebo São José
Endereço: Rua Ruy Barbosa, Centro Histórico
Estante Virtual: Sebo São José

motivo #211

This entry was written by carolangom and published on July 30, 2013 at 11:19 pm. It’s filed under compras, Serviço and tagged , , , , , , , , , , , , , , , . Bookmark the permalink. Follow any comments here with the RSS feed for this post.

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